Na prendada família de Francirene coube a ela desde cedo um dos dons mais belos que há: o de preparar com as próprias mãos o alimento que sustenta, alegra e une.
O elo físico a juntar tanta gente já ligada pelo sangue passava pelo seu conhecimento dos segredos da comida e do fogo, mas também das preferências e dos pratos capazes de colocar um sorriso no rosto de cada pessoa que amou.
Terceira mais velha entre dez filhos, veio de Fortaleza para São Paulo ainda criança com os pais. A personalidade carismática e atenta ao dinheiro a mantinha em movimento, vendendo os trabalhos manuais das irmãs e inventando excursões com os vizinhos.
Muitos casais devem suas uniões a esses passeios, e Francirene tornou-se madrinha de casamento, e encarregada pelo buffet, em várias cerimônias. Feijão tropeiro, feijoada e farofa; dobradinha, sarapatel e rabada; lasanha e bacalhoada; gelado de abacaxi e bolo de cenoura… Sua culinária era das que abraçam.
Entre a família o “macarrão madinha”, sua macarronada ao alho e óleo, era idolatrada entre os muitos sobrinhos, e até entre os que não eram seus afilhados. Francirene conheceu a felicidade à beira do fogão, dedicando a ele todos os dias como se fosse domingo.
Seus seis irmãos mais moços tinham nela quase uma segunda mãe e isso só ficou mais forte depois que casou. José Apóstolo era vizinho e ouviu do futuro sogro que se quisesse namorar a filha de 23 anos tinha que arrumar a vida e voltar dali a um ano. E assim foi: o noivo só passou do portão da casa para o casório, que aconteceu no quintal.
Francirene acabou trabalhando não com comida, mas com dinheiro. Foi tesoureira da Santa Casa por anos e só deixou o serviço de lado ao dar à luz à única filha, Luciene. Sua última proeza financeira foi comprar um carro zero usando apenas o salário mínimo do INSS.
Diabético, o casal viu a saúde se complicar e manteve-se unido, um cuidando do outro. Mesmo quando chegaram as cadeiras de rodas enquanto a visão aos poucos ia embora. Abandonado o fogão, Francirene seguiu preparando apenas o bolo de cenoura da família: “a gente colocava as coisas na mesa pertinho e ela fazia”, lembra Françui, a irmã mais nova.
Conforme a doença avançou, sua risada tão característica deu lugar ao silêncio. O nascimento da única neta, Gabriela, criada como mais uma das tantas filhas e filhos que não teve, lhe deu um novo alento — já quase cega acordou, respirou e viveu pela pequena, até o corpo dizer não mais. Francirene partiu deixando para trás seu grande amor, saudade e uma família inteira órfã.
Este texto, me faz lembrar de cada detalhe de como foi viver só lado dessa Pessoa Maravilhosa que amava tudo e a todos parece que estou vendo ela em cada palavra dizendo era bem assim.
Tudo muito lindo. As Lágrimas rolam, o Sorriso aparece meio sem jeito a Saudade aperta o Coração e um misto de Sentimentos. Mas sinto muito Orgulho dessa Homenagem a Ela. Gratidão ❤