Um acidente grave de carro às vésperas da última etapa de testes para o Juventus inviabilizou o sonho de Francisco de tornar-se um jogador de futebol profissional. Atuara como ponta-direita por anos em um time de São Vicente, no litoral de São Paulo, a bola era sua paixão. Mas enquanto recuperava-se da batida e lutava para impedir o amputamento de seu braço, não poderia mesmo sonhar que a glória merecida se materializaria fora dos gramados.
Francisco foi pai, avô, compositor e poeta. Foi reconhecido, bem-sucedido, deu e recebeu amor. Caçula de três filhos, deixou na adolescência o bairro de Pinheiros, onde vivia a família, para viver em uma idílica Sāo Vicente. O pai, José, aposentava-se naquele momento da sua barbearia de sucesso, por onde circulavam nomes da política como Ademar de Barros, para descansar na praia.
O sucesso financeiro dele garantiu a Francisco uma vida confortável. Pescava com o pai e cabulava aula, sua única obrigação, para jogar bola. Não sem os protestos de José, incapazes de dissuadir o menino como geralmente ocorre. Um dos companheiros de clube seria colega do Rei Pelé no Santos anos depois.
Aos 20 Francisco já morava em São Paulo novamente. Depois do acidente e de abortada a promissora carreira de jogador de futebol trabalhou por alguns anos no salão montado pelo pai, mas o negócio foi vendido após o falecimento dele. Atuou ainda em uma empresa antes de ser contratado e fazer carreira na Consul como gerente na Assistência Técnica. Aposentou-se lá.
O amor chegou por um caminho bem mais misterioso. Fora entregar uma carta nos Correios e saiu da agência apaixonado por uma mulher que fazia o mesmo. A paraibana Nemézia topou vê-lo novamente após um papo rápido e já apareceu com um presente no segundo encontro. Francisco lembraria para sempre do misto de constrangimento, por não haver levado nada para ela, e de emoção por ver-se correspondido naquele amor.
Tiveram dois filhos, Giovanni e Alcebíades. Os meninos viam em Francisco alguém trabalhador, honesto e capaz de dar bons conselhos. Mas acima de tudo um pai carinhoso e próximo. A esposa, exímia cozinheira, cuidava da casa e fazia comida para fora também. Eventualmente puderam comprar uma casa em Mongaguá, para onde a família rumava nas férias e feriados prolongados para descansar.
Depois de aposentado, mergulhou no seu lado artista. Já escrevia poemas e compunha letras de músicas, e neste momento tornou-se locutor de rádio, primeiro na VIC e depois na Nova Onda FM, em Guarulhos. Recentemente comandou o Sarau Amor e Esperança na Casa de Cultura Popular São Rafael, em parceria com a Prefeitura. Era conhecido no meio cultural da cidade e chegou a publicar dois livros de poesias.
A primeira neta, Giovanna, de quem cuidou com a esposa desde bebê, o acompanhava nesses saraus. Também teve a sorte de ver de perto parte da primeira infância do neto caçula, João Pedro.
Francisco ficou internado uma semana por um problema no esôfago. Quando saiu, uma manga cortada, sua primeira alimentação sólida, o levou de volta para a unidade médica, desta vez em definitivo. Princesa, sua cadelinha e xodó, sente sua falta. E a Casa de Sarau Amor e Esperança, que batizou, agora se chamará “Chiquinho Grosso”, em sua homenagem. Em seus dias de frustração pela carreira perdida como jogador profissional nunca poderia sonhar que brilharia de tantas outras maneiras.