Quem teve a sorte de conhecer Suzete poderia expressar sua personalidade em duas características a princípio muito distintas entre si: era exigente, porém generosa.
Seus três filhos – duas mulheres e um homem – atestaram a primeira qualidade sem grandes dificuldades. Rígida, tomava para si a missão de colocar a educação dos pequenos, inclusive moral e ética, em primeiro lugar. Deles esperava dedicação à altura.
Já os 12 irmãos e mais de 40 sobrinhos puderam sentir o calor de sua segunda grande virtude na porta do apartamento em São Paulo, sempre aberta para a família. Vindos de Lorena, poucos não passaram ao menos algumas noites em sua casa. Os filhos se apertavam nos colchões para dar lugar aos primos, tudo virava diversão.
“Ela também adorava arrumar emprego para os outros, não podia ver um sobrinho sem. E pior que arrumava, tinha muita lábia, cativava as pessoas”, conta a filha Dulce.
Talvez fosse o reflexo de filha mais velha que movia Suzete na direção do cuidado e da generosidade com os seus. Criada em uma fazenda com outros 11 irmãos, viu seu pai morrer jovem, antes dos 50, e sua mãe perder a propriedade em uma disputa familiar.
Na época, por volta dos 18 anos, já estava casada e morando em Lorena. E em seu lar o clima era outro. Apaixonada, conquistara também o amor e a devoção de Arnoldo, que fazia todas as suas vontades.
“Ih, a Suzete é inventadeira de moda”, ele dizia antes de aquiescer a almoços especiais, passeios e até pequenas reformas. Era o início de um casamento feliz que durou 47 anos.
Seu marido trabalhava em uma fábrica de pólvora na vizinha Piquete, ela era secretária concursada de uma escola estadual. A vida correu, chegaram três filhos, e a aposentadoria dele foi a deixa para a família fazer as malas rumo a São Paulo.
Na cidade grande, transformaram-se ambos. Ele seguiu trabalhando como porteiro por mais 29 anos, até o fim da vida. Ela foi transferida para a Secretaria Estadual de Educação, de onde só saiu para voltar a ser secretária de escola, já no fim da carreira. Sentia falta das crianças.
A vida pacata de Suzete escondia outras duas características a princípio muito distintas: aventureira, sonhava em viver na estrada e viajou o quanto pôde e até onde a saúde permitiu. Apaixonada por política, amava ler e assistir jornais, ainda mais quando tinha com quem comentar as notícias.
Sonhos de viagens, exigência com as prioridades, interesse pela vida pública e generosidade ficaram para trás quando uma insuficiência respiratória a levou aos 92. Porém, três filhos, seis netos, seis bisnetos, dezenas de familiares e outros tanto sortudos lembrarão dela assim.